terça-feira, 18 de junho de 2013


Mundana

Ela é o retrato da infâmia
Possui boca profana
Que duvida e não se espanta 
Com a mediocridade de ninguém

Ela tem um só sapato para seus dois pés
Anda puída
Atrevida 
E injuriada
Corre sem rumo
Pega qualquer estrada
Desnorteada, ela estava embriagada... 
De solidão.

E seu amargor era imundo
Enraizado e tão profundo 
Que acreditou não ter mais coração.

Então ela foi num mandingueiro
Fez pacto com o não justiceiro 
E debandou-se pelo mundo. 

Desacreditou-se da vida
Levou o tempo a abrir suas feridas 
E rasgar-se em seu bordão:
"-Eu sou Deus! Eu sou Deus!"
Dizia ela prepotente
Para toda situação.

Até chegar aquele dia
Que ela tanto pedia
Mas da vida só ouvia "não". 

Ela encontrou o seu adeus no bar
Bem na hora que ia ao banheiro acabar 
Com toda aquela sofreguidão. 

Nos restos de vidro o sangue escorria
No corpo imundo o sangue descia 
E ela parada apenas sorria 
Ao pensar no camburão.

Mas algo estranho aconteceu
Uma luz no fim do túnel se ascendeu
E ela ainda pode ouvir um ruído renitente.

Era o som de uma sirene
Com luzes pálidas
O vento frio, impiedoso e perene 
Que lhe soou triste e estridente 
Pela derrota da sua contemplação.

E agora ela se faz Joana
Amanhã finge ser Caetana
E quem sabe um dia será só ela
Ou mais ninguém.

Ela ainda anseia encontrar
Numa esquina 
Ou em qualquer lugar
O destino que lhe convém.

domingo, 3 de fevereiro de 2013



Sou(L)venir

Já não conto por quantas vezes me pergunto a mesma coisa; como uma vitrola com disco arranhado, em uma repetição constante e contínua.
Sempre parando e observando, mas nunca conseguindo, de fato, entender como as coisas foram ficando cada vez mais sérias.


Fomos esquecendo com o tempo as coisas que devíamos ter por prioridade, fomos perdendo os princípios, a gentileza, os bons hábitos.

Esquecemos das nossas famílias, dos nossos amigos, fomos perdendo tanto tempo...

E a correria dos dias só nos trouxe frustrações, desencantos... O famoso "stress" pelas buzinas da cidade e os engarrafamentos. Vemos acidentes, vemos fome, vemos perdas, vemos tudo passando diante dos nossos olhos, mas não nos importamos com isso, pois estamos muito ocupados com o horário do trabalho que temos que cumprir, ou com o aumento que tanto almejamos, ou com o horário no salão de beleza, tudo isso para maquiar não o rosto, mas a alma.

Estamos nos tornando cada vez mais egoístas, mas mesquinhos, mais consumistas. E há quem culpe o sistema, mas o que não entendem é que o sistema só existe porque existem pessoas, que dão sua própria "vida" para faze-lo existir. Mas e quem lembra que é uma pessoa, não é mesmo?! Quem tem tempo para lembrar do que existe, ou existiu um dia dentro de cada um? 

Somos aqueles que, no silêncio da noite, ligam o som para não dar ouvidos ao nosso pensamento e para nos livrarmos das culpas e responsabilidades que nos perseguem... Somos eternos fugitivos.

E para quê estudamos tanto, para hoje sermos analfabetos?! Construímos máquinas sofisticadas, que acabam com o equilíbrio da natureza (esquecendo que nós, somos natureza também) e nos deixam cada dia mais solitários, intolerantes, egoístas... Construímos a nossa destruição e nem mesmo percebemos, isso porque estávamos mais preocupados em sermos melhores que os outros e um dia sermos exibidos para o mundo, belos, em prateleiras, como souvenir.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

        
     


Desejos

Ah, como queria!... Retirar os suspiros presos
Saciar os teus desejos
E cobri-lo com meu corpo

Ah, como queria... Arrancar as tuas vestes
Libertar-te de suas pestes
E sussurrar ao teu ouvido sussurros roucos

Mas resguardo ao pensamento
Me contendo nos desejos
De arrancar-lhe ardentes beijos
E confissões de um amor incontido 

Pois meus desejos escondidos
Pousam num amor louco e impossível
Que não de hoje, somos responsáveis
Pela marca de corações comprometidos.


quarta-feira, 14 de março de 2012


Platônico

Ele a viu ali parada, silhueta perfeita, mas algo ali estava errado.
O brilho nos seus olhos era reluzente, mas o reluzir parecia solitário.
Então gastou-se em adimirar tal forma e sem se dar conta, perdeu dias a fim.
Com o passar dos dias não desvendou tal mistério, mas apaixonou-se por ele.

Escreveu-lhe cartas, fez poemas em seu nome, mas nada a fazia mudar de expressão.
Resolveu aproximar-se, depois de um tempo e estar junto dela, desvendar o seu silêncio...  
Mas parou de súbito quando se deu conta de que se apaixonara por uma estátua de gelo, e que o brilho dos olhos escorria por gotas que narravam seu coração de pedra.

terça-feira, 22 de novembro de 2011


Escolhas


Quem ama a poesia, dela se farta.
Quem ama a maldade, nela se ensoberbece
Quem ama a vaidade, nela se encontra
Quem busca o amor, nele se perde

Quem ama a morte, ela o abraça
Quem não ama nada, não tem porque viver
Quem não vive, não sofre
Então escolho a escolha de morrer.

Porque viver é sofrer
Sonhar é sofrer
Amar é sofrer
E morrer... É só morrer.





















segunda-feira, 31 de outubro de 2011




Sonho

Como as flores belas dos campos
Como as rosas nos contos de encanto
Como o céu num dia azul
Bonito como o sol brilhando ao sul
Como um dia de primavera 
Com cheirinho de canela
Caminhávamos de mãos dadas
Eu e ela
Era assim o nosso amor romântico
Como um sonho até eu acordar
E ver o quão tristonho é tentar viver
Ou construir um romance sem par.

sábado, 17 de setembro de 2011




Ela.
Ela andava a passos largos, apesar das mãos tremulas acendeu um cigarro.
Buscou entre seus pensamentos uma saída para a sua situação, nada veio, nada fazia sentido naquele instante; então ela sentou num meio fio e desesperada chorava, chorava e chorava...
Até que ela achou uma saída, mais dolorosa, porém a mais eficaz.
Resolveu então pegar seus sonhos e joga-los num rio, e junto com eles o seu coração, jogou  todas as lembranças fora, todas, até não restar mais nenhuma.
Depois disso ela virou um objeto de carne e ossos, vagou pelas ruas, foi estuprada, espancada e morta; mas ela não sentiu nada, pois jazia morta desde o dia em que seus sonhos  foram tragados pelo rio.