Mundana
Ela é o retrato da infâmia
Possui boca profana
Que duvida e não se espanta
Com a mediocridade de ninguém
Ela tem um só sapato para seus dois pés
Anda puída
Atrevida
E injuriada
Corre sem rumo
Pega qualquer estrada
Desnorteada, ela estava embriagada...
De solidão.
E seu amargor era imundo
Enraizado e tão profundo
Que acreditou não ter mais coração.
Então ela foi num mandingueiro
Fez pacto com o não justiceiro
E debandou-se pelo mundo.
Desacreditou-se da vida
Levou o tempo a abrir suas feridas
E rasgar-se em seu bordão:
"-Eu sou Deus! Eu sou Deus!"
Dizia ela prepotente
Para toda situação.
Até chegar aquele dia
Que ela tanto pedia
Mas da vida só ouvia "não".
Ela encontrou o seu adeus no bar
Bem na hora que ia ao banheiro acabar
Com toda aquela sofreguidão.
Nos restos de vidro o sangue escorria
No corpo imundo o sangue descia
E ela parada apenas sorria
Ao pensar no camburão.
Mas algo estranho aconteceu
Uma luz no fim do túnel se ascendeu
E ela ainda pode ouvir um ruído renitente.
Era o som de uma sirene
Com luzes pálidas
O vento frio, impiedoso e perene
Que lhe soou triste e estridente
Pela derrota da sua contemplação.
E agora ela se faz Joana
Amanhã finge ser Caetana
E quem sabe um dia será só ela
Ou mais ninguém.
Ela ainda anseia encontrar
Numa esquina
Ou em qualquer lugar
O destino que lhe convém.